sexta-feira, 25 de maio de 2012

Arquiteta da Destruição

Esse corpo que remete a algo
Mas o que ditam sobre ele
Não, não corresponde ao que ele é
ao que eu quero que seja
matéria concreta
sangue e porpurina
veia saltada
pupila dilatada

Corpo jovem
Demasiado velho, indefinível
Sufocante, latejante

Navalhas na carne
Testosterona
ona ona ona ona
Robótica drogada
Indecente puta, a serviço dos que pagam mais
Natureza, quem é você?

Quebrei o altar dos seus Deuses
Mandei o açougueiro a merda
Fiz eu mesma
Coloquei-me
Conformei-me, precária e insalubre
mas o fiz
Imperfeita assim estou
Sabotei tua universalidade perfumada
Sou o teu discurso, vivo e sangrando
Mas completamente distante do seu
confortável mundo, da tua clareza
acadêmica, limpa e branca

Ao contrário da dor, do corpo, sem alma
a mente é lucida
Na rua, o silicone me faz real
Ainda tenho pau

Amputamos juntas
Tornamo-nos
feia criatura
bela amargura
Cimento pra construção
Reboque e alucinação
O precipício me faz existir
ampolas da amapô alucinada
rasgada, mas forte



quinta-feira, 10 de maio de 2012

Meu comandante encapuzado

Uma rebelião em frente a igreja, soldados armados
Kassandra portava um molotov
Um tiro, um grito, uma morte
uma vida
Sangue na mão da anarquista perversa
A massa burra conformada aplaude sentada
O padre foje
A multidão fica
Passei meses tentando encontrá-la
Manifestações não faltaram
procurei, procurei, procurei
Descansei
mas encontrei ele
            Fodemos muito, eu e ele, ele e Kassandra,
                                     eu ele e Kassandra
                                     Fiquei tão feliz em revê-la
ele não quis mais saber de mim, e nem ela
Voltei pra Atenco
Raspei a cabeça
Lenço na cara pra ser invisível
pra ser igual
Comandante Marcos, Me come?
Aqui na selva Lacadona
las mujeres son donas de si
(pero solo transam com sus novios)
            Se Deus esta morto, Marx também,
            o partido falido e a família sepultada
1994 - um ano sem trégua

         
     






Pia Suja

Uma criação formal
A pia suja da comida de ontem
Carlos entra na sala e grita
Me entope de porra no cu
E entupo ele também
A festa de ontem acabará mal
Duas na veia do braço
Uma no pé
A pia continua suja
Carlos me leva com ele
Deixo-o lá
Kassandra queria compania
Os gatos precisam de nós
Em casa, os pratos com restos de comida
Kassandra mia, mia, mia
Porra, porque tanta louça na pia?



quarta-feira, 9 de maio de 2012

Relógio

Certezas desaparecem como cinzas no ar
E a vida é como um ponteiro de relógio
Muda a cada segundo
Não sinto nada
Até que um dia esse ponteiro quebra
E quando tudo volta a funcionar
Mudou-se a vida
Acabei sentindo tudo.

A eles eu disse: A sobrevivência é uma ilusão!



Me pediram pra ser dócil, pra aceitar tudo como esta
Disse que não
Me solicitaram pra defender a pátria, recusei-me
Até chegaram a dizer que eu deveria ter filhos
Planejar uma família...
Saliva gasta , não fiz nada disso. E nem farei

Tenho medo ao invés de coragem
E a covardia não é um defeito

Sobreviver, deseja assim que seja o grande Líder
Somos felizes acreditando que a vida
é esse monte de lixo, esse cheiro de sangue horrível
Armas que matam a fome -  carros que podem voar
Infeliz aqueles que tudo tem nesse mundo
Feliz os que nada possuem.
O velho mundo nos reserva atrocidades espetaculares

Ainda é possível sentir na ponta dos pés os ossos dos que aqui foram mortos

Muitos acreditaram na minha derrota
Tiveram a capa de pau de pedir que eu entregasse o jogo
Mas o que eu queria, era destruí-lo
E mais uma vez, eu disse não

Sou homem bomba
Ravachol reencarnou no meu corpo.
Minha existência explosão
Preferi morrer de para-quedas que com um tiro no peito,
as armadas forças me expulsaram
Vamos, eu quero, e você também
Cortex maldito!

O belo rapaz me convidou pra dançar
Perdi -me em seus olhos negros
A boca gelada contrastou com a porra quente no meu rosto
Fomos juntos pro front
Ele morreu no segundo dia

Com tudo isso, eu ainda não entendo o motivo pelo qual
insistem em me capturar

Lisi cortou o bico dos seios e colocou-os em um vidro com nitrogênio
Meu revólver disparou contra o professor de matemática.




Lembranças que atormentam a alma
é como sangue seco
O recusar da vida me atrai

O mundo doente criou a paranóia
remédios que curam a dor
mas que não conseguem
apagar a memória

Fadada eternamente a buscar
nunca encontrar
lá fora a dor é maior